quarta-feira, 17 de junho de 2009

Florzinhas de Papel

“Todos os dias o mesmo caminho. Que vontade de mudar, ver outras caras, outros lugares, pensava exausto Glauco, um empresário bem sucedido, roupas elegantes e caras, carro importado, pasta de couro, mãos macias, perfume italiano, rosto bonito, olhos negros, cabelos ondulados e macios... Parecia um Deus Grego, tamanha era sua beleza. Mas havia nele uma melancolia de dar pena, olhar profundo e triste...
“E para completar essa rotina estressante tenho que aturar aquele palhaço a fazer gracinhas no meio da rua, bem em frente a minha casa”, esbravejava o belo Glauco se referindo a um lindo palhacinho, vestido de rosa, amarelo e azul que vivia a fazer piruetas na rua. Era tão lindo vê-lo dançar com aqueles sapatões e calças enormes. Tinha traços meigos, não revelados devido à máscara de pintura colorida desenhada no rosto pequeno. Uma máscara risonha de boca enorme, sempre iluminada por dentes muito brancos. Era difícil não se sentir atraído. Mas Glauco não gostava, se sentia incomodado com sua presença, evitava passar por ele, olhar seu rosto. Mas o palhacinho não se importava, sempre que Glauco saía ou chegava em casa, lá estava ele com uma florzinha azul de papel na mão a lhe oferecer. Mesmo contrariado pegava e jogava no banco traseiro do carro negro.
Dava graças a Deus entrar na deslumbrante mansão e se jogar numa poltrona para descansar o corpo e a cabeça. Sentia uma tristeza enorme, um vazio. Não suportava mais as pessoas o rodeando, bajulando, com aqueles sorrisos falsos. Não tolerava tanta falsidade, até mesmo sua família era fútil, só queria saber de festas, grifes...
Glauco estava cansado naquele dia, sentia sua alma pedir socorro. Tomou um banho, se vestiu e foi até a janela. “Lá está ele, e seu eterno sorriso, mas por que estou olhando?”. Glauco não entendia porque sentia aquela sensação estranha. Talvez fossem os olhos, havia neles um brilho especial... Sentiu uma curiosidade, desceu até a garagem, pegou as várias florzinhas espalhadas no banco, nelas estava escrito: 'Estarei sempre ao teu lado'.“Que coisa estranha”, pensou Glauco, que resolveu conversar com o Palhacinho. Mas o destino às vezes prega peças, ao descer o tumulto estava formado, atropelamento disseram. No chão estava o pobre palhacinho, todo ensanguentado. Glauco se ajoelhou a seu lado, tocou no rosto, tirou a peruca. Longos cabelos caíram sobre um rosto mimoso de mulher. Uma mulher, esse era o segredo da linda e apaixonada palhacinha, que segurava na mão outra florzinha de papel.
O tempo passou, a palhacinha poderia ter morrido, mas hoje quero um final feliz. Glauco e ela se casaram e foram felizes.

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