quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lábios finos... Seios Fartos

A rua estava vazia naquela manhã de domingo. O silêncio imperava quase que absoluto, não fosse pelo som das orações da Igreja.
Ele parou por um instante, ficou ouvindo, sorriu enigmático falando: ‘Tinha de ser em latin’. Virou as costas e seguiu seu caminho.
Era um homem bonito até. Porte elegante, rosto de traços aristocráticos, lábios finos (amargurados, é bem verdade). Não costumava olhar para as pessoas. Parecia sentir medo, ou o pior: desprezo. Uma ‘mente brilhante’, era a melhor definição para aquele jovem pálido e esquecido naquela manhã de domingo. Os lábios finos entoavam uma canção suave. Por certo Beethovem, Chopan. Quem sabe? Era fino o moço, gosto refinado. Falava várias línguas, era preciso em tudo que escrevia. Sim, o jovem era um poeta das linhas perfeitas. E como eram belos seus poemas! Melímetricos, pensados, tirados do fundo do seu ser. Misteriosos...
Era gostosa aquela manhã de domingo. Estava tão bem sozinho e pensativo. Era assim que gostava... Sentou um pouco no calçadão para observar as casas quietas, as ruas desertas. Gostava do calçadão vazio. Detestava o movimento frenético da semana. Cortinas fechadas, portas cerradas. Vitrines baixas, quietas, sem nada para oferecer, sem preços, sem liquidação...
Pensou em sua casa, num passado distante. A mãe, uma mulher linda cheirando a alfazema, começava a preparar o almoço de domingo. Gostava de ficar olhando aquelas mãos limpas temperando frango, cozinhando batatas... Era bom o doce de goiaba. Os irmãos gritando lá fora, correndo atrás do ‘pretinho’, cachorrinho de Isabel.
Nostalgia? Deixa para lá. O moço fino seguiu seu caminho assoviando Danúbio Azul.
Não costumava passar por aquela rua. Ficou admirado com a beleza do lugar, cheio de árvores. Poético... Uma voz desafinada cortou seus pensamentos, feriu seus tímpanos. Cantava por certo ‘Bruno e Marrone’, algo que falava em um jeito de olhar. Detestava simplicidade. Amor tinha de ser cantado de forma clássica, palavras escolhidas, linhas metrificadas...
Então o dono da voz, aliás, dona. Moça robusta, seios fartos, morena de ancas largas, cintura fina. Metida num vestido de chita barata, numa mescla de florzinhas amarelas e azuis.Tinha nos cabelos uma rosa vermelha recém colhida do jardim. Ela viu o moço fino e sorriu. O rapaz quase morreu. O corpo tremeu, o suor escorreu e o mundo parou. Estava alucinado por aquela visão. Esqueceu até da Belinha, a moça fina e delicada da casa branca, número 20, que tocava piano a tardinha.
Pensou em recitar poesias, cantar, porém nada fez, apenas correu como um louco para casa e ficou sem saber o que fazer.
O calvário haveria de continuar durante semanas. O moço enlouquecido de paixão mandou flores, enviou CDs de músicas clássicas, escreveu poemas em línguas inimagináveis. Ela nem ligava, apenas olhava confusa.
No auge de seu desespero, o moço dos poemas difíceis, das palavras controladas chegou ao portão de madeira podre, da casa rústica, da moça vestida de chita barata, cheirando a talco e gritou:
- Eu te amo!!!
Ela então saiu na janela e sorriu como nunca e disse apenas:
- Ora! Por que não falou antes? Também te amo!
O moço fino e a moça simples casaram ao som de Bruno e Marrone e a Sinfonia de Beethovem.
Impossível?
Não para quem apenas quer ser feliz e encontrar paz.

Eu e o paquiderme

Um elefante: era a melhor descrição para o homem gorducho e simpático que caminhava vagarosamente pelo acostamento da estrada. Parecia sentir muito calor, pois transpirava sem parar. Fiquei olhando curiosa aquela figura rosada e de certa forma, bela já que possuía a expressão doce, peculiar aos paquidermes. Ele pareceu ler meus pensamentos, porque olhou em minha direção e sorriu um sorriso aberto e franco. Resolvi acompanhar o pesado senhor, estávamos na mesma situação. Caminhando no asfalto, ele para emagrecer, eu para aliviar os pensamentos, nada melhor que o ar puro.
Seguimos conversando como velhos amigos. Era engraçado aquele homem de aparência enorme e palavras tão doces. Disse que adorava doces, principalmente chocolates e ao dizer isso puxou do bolso um tablete. Agradeci, e ele seguiu comendo com vontade.
O vento soprava gostoso naquele horário da tarde, era ideal para passear. Eu já nem sentia o tempo passar, estava curiosa demais sobre a estranha figura comedora de chocolate. Parecia tão despreocupado, feliz até. Olhei para a camiseta branca com a estampa de uma moça linda a sorrir, aliás, o mesmo sorriso do paquiderme. Quando pensei em perguntar sobre a moça, ele, com voz calma, falou que era sua filha. Eu prontamente queria ser simpática, perguntei onde estava, o que fazia? Curiosidades. Ele de imediato respondeu: ‘Prostituta, essa é sua profissão’. Juro por Deus tive vontade de ser um papa-léguas e sumir estrada afora. Ele ria do meu “vermelhão” e eu ficava cada vez mais sem jeito. Prostituta, disse ele, com uma naturalidade de dar inveja. Bruna era o nome da moça, tinha 25 anos, e também gostava de chocolate. Era uma moça fina, educada, de bons sentimentos. Cuidava da irmã doente, da mãe estressada e louca por conforto, estudava psicologia, tinha amigos, era solidária, sincera. Mas tinha uma marca: prostituta, e isso ninguém perdoaria. Poderia até morrer falando dos estupradores de crianças, dos políticos corruptos, dos assassinos, das madames-podres-que-se-escondem-atrás-do-poder-para-fazer-coisas-do-tipo-sadomazoquista, dos mentirosos, dos golpistas... Nada disso importaria, ela a Bruna, era uma prostituta, uma marginal, uma fora da sociedade.
O ar ainda estava puro e eu continuava ao lado do homem rosado, o pai de uma prostituta. Nada havia mudado nele, mas em mim sim, pois eu insistia em achar que o homem tinha de ser diferente. Afinal era o pai de uma ‘mulher da vida’. Ele continuava a andar devagar, disse que havia sofrido dois infartos, que estava vivo graças à Bruna, que não deixou de estar a seu lado um minuto sequer. Olhei aquele rosto rechonchudo, que falava com orgulho da filha. Mas ela era uma prostituta e todos dizem que não merecem respeito, são indignas, nojentas, pervertidas...
Um carro branco estacionou a nosso lado, era Bruna, que viera buscar o pai. Fiquei a olhar a moça. Era igual a todas as criaturas, bela, sorria alegre para o bom paquiderme.
Ele, antes de entrar no carro disse com seu jeito manso: ‘Se todas as pessoas fossem como minha filha prostituta, o mundo seria mais justo’. Segui minha caminhada comendo um pedaço de chocolate e rindo de meus próprios julgamentos.

Florzinhas de Papel

“Todos os dias o mesmo caminho. Que vontade de mudar, ver outras caras, outros lugares, pensava exausto Glauco, um empresário bem sucedido, roupas elegantes e caras, carro importado, pasta de couro, mãos macias, perfume italiano, rosto bonito, olhos negros, cabelos ondulados e macios... Parecia um Deus Grego, tamanha era sua beleza. Mas havia nele uma melancolia de dar pena, olhar profundo e triste...
“E para completar essa rotina estressante tenho que aturar aquele palhaço a fazer gracinhas no meio da rua, bem em frente a minha casa”, esbravejava o belo Glauco se referindo a um lindo palhacinho, vestido de rosa, amarelo e azul que vivia a fazer piruetas na rua. Era tão lindo vê-lo dançar com aqueles sapatões e calças enormes. Tinha traços meigos, não revelados devido à máscara de pintura colorida desenhada no rosto pequeno. Uma máscara risonha de boca enorme, sempre iluminada por dentes muito brancos. Era difícil não se sentir atraído. Mas Glauco não gostava, se sentia incomodado com sua presença, evitava passar por ele, olhar seu rosto. Mas o palhacinho não se importava, sempre que Glauco saía ou chegava em casa, lá estava ele com uma florzinha azul de papel na mão a lhe oferecer. Mesmo contrariado pegava e jogava no banco traseiro do carro negro.
Dava graças a Deus entrar na deslumbrante mansão e se jogar numa poltrona para descansar o corpo e a cabeça. Sentia uma tristeza enorme, um vazio. Não suportava mais as pessoas o rodeando, bajulando, com aqueles sorrisos falsos. Não tolerava tanta falsidade, até mesmo sua família era fútil, só queria saber de festas, grifes...
Glauco estava cansado naquele dia, sentia sua alma pedir socorro. Tomou um banho, se vestiu e foi até a janela. “Lá está ele, e seu eterno sorriso, mas por que estou olhando?”. Glauco não entendia porque sentia aquela sensação estranha. Talvez fossem os olhos, havia neles um brilho especial... Sentiu uma curiosidade, desceu até a garagem, pegou as várias florzinhas espalhadas no banco, nelas estava escrito: 'Estarei sempre ao teu lado'.“Que coisa estranha”, pensou Glauco, que resolveu conversar com o Palhacinho. Mas o destino às vezes prega peças, ao descer o tumulto estava formado, atropelamento disseram. No chão estava o pobre palhacinho, todo ensanguentado. Glauco se ajoelhou a seu lado, tocou no rosto, tirou a peruca. Longos cabelos caíram sobre um rosto mimoso de mulher. Uma mulher, esse era o segredo da linda e apaixonada palhacinha, que segurava na mão outra florzinha de papel.
O tempo passou, a palhacinha poderia ter morrido, mas hoje quero um final feliz. Glauco e ela se casaram e foram felizes.

Ainda são pitangas

Mãos nervosas, loucas, manchadas de vermelho comprimiam um peito sufocado de tanta angústia e opressão. Vontade de arrancar aquele sentimento de fraqueza que teimava em apagar seus dias, tornar a vida um verdadeiro inferno.
Razão! Gritava uma voz que vinha lá de dentro da mente.
Fraco! Demente! Até quando irá tua covardia diante das pessoas, do mundo que te cerca? O que pensas que estás fazendo com tua vida? Hipócrita! Acha que com mentiras, soberba chegará a algum lugar? Não passa de um verme nojento e pequeno que tenta da forma mais vil intimidar até mesmo aqueles a quem diz amar.
Isso nobre senhor! Grite covarde, pensas que pode fazer sofrer sem que um dia não tenhas que pagar por seus erros? Humilhe, jogue palavras ao vento, ofenda, não pense que nasceu de uma mulher, que tem um pai, filhos, esposa. Continue, acredite que fazendo pouco dos outros estará galgando uma escada de sucesso. Vamos caro senhor, não pense que um dia as lágrimas que faz rolar em rostos alheios não irão também cobrir os olhos de teus filhos.
Mãos vermelhas agora passam por um corpo dobrado e nu, de um homem sem razão e só. Humilhado, cercado de nada. Homem de má fé, egoísta e fraco que com garras de veneno feriu muitas pessoas, umas inocentes, outras nem tanto, muitas merecedoras. Mas não importa, julgar a ti não cabe. Pobre humano, inteligente e estúpido, um rei sem trono, sem verdade, incapaz de respeitar.
Agora chora diante da morte, como um débil agoniza triste, sem saber o que fazer diante do espelho que reflete um rosto bonito, de olhos verdes e profundos, que buscam por atenção, carinho, respeito, valor. Cretino! Quem pensa que é para pedir sentimentos tão nobres, nunca foi nobre, como pode querer consideração, meu caro?
Fecha tuas mãos vermelhas, deita no chão e tenta voltar à razão. Idiota! Ainda é tempo, reflita só um pouquinho, sente, cheire tuas mãos secas e verá que ainda não tem sangue nelas, mas sim pitangas esmagadas.
Tolo! Pensa que é rei, mas não passa que um reles idiota, que fazes rir os ignorantes e os vermes como tu.
Pitangas, meu caro, ainda são pitangas.

Presta ou não presta

Dobra à esquerda, segue em frente, corta a floresta, dobra, segue e volta. É o próprio fim do mundo onde mora João, um velho lenhador. E não pensem que vão encontrar uma casa comum, não. João é diferente, é especial. Para achar sua casa é preciso olhar para o alto, aí sim vão encontrar a casinha rústica feita no capricho por mãos fortes, ásperas de um trabalhador incansável, porém excêntrico. Uma enorme Timbaúva servia como base para a linda morada do desconfiado lenhador. Para subir bastava galgar alguns degrauzinhos ao longo do tronco forte. Lá no alto era rei, o João. Bancos de madeira, rede encardida, panelas de barro e enfeites de galhos secos contribuíam para um cenário natural. Lá ninguém subia só ele e sua Jaguatirica de estimação. Bela e ligeira, Mimosa, como era chamada carinhosamente por João, mantinha guarda, olhava desconfiada a cada barulhinho na mata. Dormia ao lado da rede do velho João como a cuidar daquele estranho humano.
Mas ele chegou até João. Ele Geraldo da Cunha Pinheiro - duas vezes vereador, prefeito e candidato a reeleição. Homem letrado, dono das palavras. Mãos macias, olhar de fera, sorriso de menino. Nunca na vida havia ouvido falar de João, nem imaginava que alguém poderia viver naquele fim de mundo. Floresta escura, úmida, cheia de bichos perigosos. Mas os tempos estavam difíceis, os assessores disseram ‘todos os votos eram preciosos’, a falta de um podia ser derrota certa. Comentários surgiram, a descoberta estava feita, havia um eleitor no meio do mato. Era para lá que ia Geraldo.
Cheio de medo, acompanhado por uma meia dúzia de cabos eleitorais o digníssimo candidato chegou todo amassado. O terno do mais puro linho parecia mais um saco de estopa. Os sapatos do couro de jacaré eram um barro só. Os pobres dos assessores iam deixando pedaços de bandeiras nos galhos e os panfletos serviam para espantar os mosquitos. Geraldo, o prefeito olha para frente, para os lados e nada da casa do João. Um grito desesperado ecoa na mata. Era Vadinho um alegre cabo eleitoral, apavorado com Mimosa, a Jaguatirica que olhava curiosa o grupo. Pânico geral, todos olhavam agora para cima e lá estava João a sorrir alegremente. Completamente confuso o candidato a reeleição estampou no rosto o sorriso mais simpático e se botou a falar. João sem entender nada pediu que o pobre homem subisse. Geraldo pensou, olhou os degraus e se foi, era um voto certo. Exausto chegou até lá. Os correligionários acenavam com bandeirinhas sob o olhar de Mimosa.
Depois de tomar água, Geraldo falou e falou, explicou projetos e mais projetos. Era pura humildade. Falou da infância pobre, das tristezas da vida, dos filhos, da mãe, do pai, que já havia sumido no mundo.
João apenas concordava e dava água para o homem molhar a garganta. Depois de muitas promessas, até casa na cidade João já tinha, o candidato resolveu se despedir. E se foi deixando para traz uma bandeira e uma camiseta com seu nome estampado. No dia da posse do candidato reeleito lá estava João da floresta todo faceiro, abraçado em Mimosa acenou para ele. Confuso diante daquela figura, apesar dos protestos das demais autoridades foi até ele e apertou a mão cheia de calos do velho lenhador que disse sereno: “És um homem honrado, meu filho, se agisse somente em troca do voto não apertaria hoje minha mão”.
Feliz o velho lenhador foi embora com sua Jaguatirica, deixando para trás uma lição para o homem que se tornou um político honrado e digno de todos os cargos exercidos.
A vida tem dessas coisas. Presta ou não presta.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cheiro de Lux

A água fraca corria preguiçosa sobre o corpo magro, formando uma estranha coreografia. Mãos de dedos finos e longos apertavam com certo cuidado o sabonete branco coberto de pelos negros. Era interessante a forma quase amorosa como esse homem segurava o “Lux”. Sim, Lux, a marca de sabonete que ele usava a mais de 15 anos - Branco-suave-aveia-maciez. Três banhos por dia, o mesmo perfume, o mesmo prazer, a mesma vontade de ficar ali embaixo daquele velho chuveiro por toda a eternidade.
A toalha branca a espera, como num ritual único e particular. Um abraço apertado, protegido pelo tecido grosso e felpudo, o homem aspirava a fumaça perfumada do Lux, que dançava no banheiro mofado, de azulejos verdes com figuras tristes. Ele ria tranquilo como a conversar com aquele ambiente, com o espelho quebrado que deformava seu rosto. Mas ele amava aquele mundo. Um mundo Lux que parecia esconder segredos dentro das centenas de caixas do sabonete branco. Mania? Não, ele sabia que não era, mas isso só importava a ele...
Vestiu-se como de costume. Calça branca, camisa azul, chapéu preto. Estranho? Para ele não. Era assim seu jeito de ser. Sem olhar para traz fechou a porta de madeira podre, sentindo ainda o cheirinho do Lux no ar e na pele. Sim, hoje seria mais um dia perfeito. Estava protegido.
Na repartição todos conheciam o homem de chapéu preto que cheirava a Lux. Era alegre, sempre muito limpo e gentil com todos. Todos? Não, nem todos. As mulheres loiras deixavam seus modos bruscos e pouco amistosos. Seu rosto se transformava em uma máscara e tudo que se via eram, olhos furiosos e misteriosos. Os colegas notavam, mas nada diziam, afinal estavam acostumados, 30 anos fazem diferença.
Mas pobre Lúcia, uma mocinha frágil de cabelos dourados, que havia começado a trabalhar na repartição não podia compreender tamanha repulsa no olhar do homem-lux. Mas ele nada fazia, apenas evitava até mesmo passar por ela. Rezava à lenda que antigas colegas loiras até pintavam o cabelo de negro para conviver melhor com o excêntrico. (excêntrico?).
Lúcia teimava em conversar com o homem, mas ele a evitava de todas as formas. Qual era seu segredo? Ela queria descobrir o motivo daquele olhar tão profundo e magoado. Algo naquele homem a deixava encantada.
O sol escondia-se, dando espaço para a noite que vinha embalada por um vento suave. Ele caminhava sem pressa pelo caminho de sempre; olhou para os lados e pegou o beco de costume, que terminava em um portão de cemitério. Entrou, como sempre fazia, subiu e lá estava o túmulo branco, com um anjo a olhar para o alto. Os olhos azuis pousaram na lápide e num gesto rápido tirou do bolso um sabonete Lux, e colocou ao lado da cruz. Rezou baixinho. Tinha os olhos secos e no rosto uma máscara de dor.
Lucia olhava de longe, apavorada e sem ação. Esperou ele ir embora e foi até o túmulo. Na foto estava, uma mulher e um bebê. Ela linda de cabelos dourados e o bebê branquinho... Mas não teve tempo de pensar, o golpe foi seco e fatal. Cabelos loiros cobertos de sangue.
A água escorria, o cheiro do Lux branco invadia cada canto do velho apartamento. O sabonete deslizava pelo corpo magro manchado de sangue. Seu rosto era sereno. Sua mente encontrava a mulher do túmulo e o bebê. Sua família, morta dentro daquele banheiro por suas mãos ensaboadas de Lux. Intrigas, mentiras, traição da mulher com o melhor amigo. Tomavam banho com Lux. A morte foi rápida... Tudo terminado. Restaram apenas o chapéu preto do amigo e o sabonete branco da esposa.
A fumaça invadia cada canto, ele ria louco e perigosamente lúcido...